Luis Martins

Contrabaixo

O meu nome é Luis Filipe Canelas Martins e nasci em Setúbal em 9 de Junho de 1962. Nesta cidade vivi e cresci na companhia dos meus pais e restantes familiares. Comecei os meus estudos no ensino primário na escola Academia de Música e Belas Artes Luísa Todi, fundada pela professora Maria Adelaide Rosado Pinto, também fundadora do Conservatório Regional de Setúbal, do Coral Luísa Todi e do Concurso Internacional de Canto Luísa Todi. Na altura esta era a única escola oficial que, para além do ensino básico, tinha ensino da música com paralelismo pedagógico do Conservatório Nacional de Lisboa. Com 14 anos de idade tocava guitarra e baixo elétrico como autodidata, tendo sido convidado, pelo maestro, organista e arranjador Dr. José Carlos Godinho, para tocar no coro da celebração dominical na igreja de S. Julião situada na Praça do Bocage em Setúbal. Mais tarde este viria a ser o diretor do departamento de música na escola superior de educação do Instituto Politécnico de Setúbal e professor na ESART do instituto politécnico de Castelo Branco. Já em criança escutava nos discos do meu pai e do meu irmão mais velho as grandes orquestras clássicas, bem como a de Glenn Miller.

Ainda aos 14 anos ingressei no Coral Luísa Todi como barítono, onde permaneci durante 8 anos. Das apresentações que fiz com este coral foi, sem dúvida, um momento alto das mesmas o concerto com coro e orquestra da cantata cénica Carmina Burana de Carl Orff, onde o naipe de contrabaixos me sobressaiu. Também nesta altura assisti em Lisboa a concertos da orquestra Gulbenkian e, com o meu irmão mais velho, frequentei os festivais de Jazz de Cascais. Num desses concertos do Festival de Jazz assisti a um cujo quarteto pertencia a um contrabaixista de nome Henri Texier, e disse para comigo que um dia gostaria de tocar este instrumento. A paixão pela música e pelo som grave do contrabaixo começou então a crescer e, aos 19 anos, depois de começar a estudar Economia na Universidade Livre em Lisboa, matriculei-me na Academia de Amadores de Música em contrabaixo com o Professor Fernando Flores, uma vez que em Setúbal não existia o ensino deste instrumento, nem nenhum contrabaixista. Ao final do dia frequentava também o curso de Jazz do Hot Club de Portugal, onde estudei baixo elétrico com António Ferro, contrabaixo jazz com David Gausden, e, mais tarde, com Carlos Barreto, também ele aluno de Fernando Flores.

Mais tarde, com a fundação do Conservatório Regional de Setúbal, mudei-me para esta escola já que o professor titular de contrabaixo era Fernando Flores. Aqui finalizei o curso do Conservatório Nacional. Com Fernando Flores tive também a possibilidade de conhecer e ter aulas particulares com o contrabaixista austríaco Ludwig Streicher, solista e professor de contrabaixo na escola superior de música de Viena. Algumas destas aulas foram lecionadas na Escola Rainha Sofia em Madrid onde Ludwig Streicher também ensinava. Embora tivesse uma profissão na área das vendas de automóveis, que deixei em 2012, estive sempre em atividade musical, tocando entre 1990 e 1993 na Orquestra Sinfónica Juvenil, em 1992 com Mafalda Veiga, Paulo de Carvalho, e Armindo Neves, entre outros. Gravei nesta altura discos com a “Ronda dos 4 Caminhos” para a editora Universal, e “Piratas do Silêncio”, grupo do qual fui também fundador, para a editora BMG presidida na altura por Tozé Brito e produzida por Manuel Faria, pianista dos “Trovante”.

Neste último disco, que é composto quase na generalidade por temas originais, vinculeime à Sociedade portuguesa de Autores como autor. Mais tarde tornei-me também colaborador da GDA-Gestão dos Artistas, presidida pelo contrabaixista Pedro Wallenstein. Em 1995, nas Caldas da Saúde, no concelho de Santo Tirso, participei no 1º Encontro de Contrabaixistas do país em vários workshops da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 2012, porque o tempo não para, resolvi dedicar-me à música em pleno, já que era esta o maior vazio em mim por preencher. Com isto senti a necessidade de evoluir musicalmente e trabalhar a liberdade musical de execução no contrabaixo através da improvisação. Assim, em 2012 concorri e entrei no curso de contrabaixo Jazz na Universidade de Évora onde conclui a licenciatura. Iria, assim, com a linguagem do jazz complementar a linguagem da música clássica, das orquestras e da música que já conhecia.

Durante o curso fui convidado a pertencer a orquestras de Jazz como a Big Band da Humanitária de Palmela com o maestro Claus Nymark, professor titular na Universidade de Évora, e a tocar com outros músicos entre os quais o pianista Luis Barrigas, o saxofonista Edgar Caramelo, a pianista e compositora Isabel Rato, o baterista e compositor Jorge Moniz, o guitarrista Armindo Neves, de entre outros.

Participei em vários festivais como o Wine Jazz de Palmela, Jazz de Verão, Film Fest, etc.

Foi, assim, importante para mim poder complementar o estudo e as técnicas da improvisação com a linguagem das orquestras e da música que já conhecia. Também nesta altura fui convidado a gravar um cd de música da américa latina com um grupo de nome “Espírito Nativo”, formado por vários músicos oriundos de países como o Chile, Colômbia, México, Estados Unidos da América de entre outros, que foi editado em 2015. Sou também músico acompanhador dos principais concertos do Coral Luísa Todi, onde se destaca, por exemplo, os dirigidos pelo maestro inglês Mark de Lisser.

Em 2019 fui convidado, pelo diretor e pelo conselho pedagógico do Conservatório Regional de Setúbal, a fazer uma substituição e lecionar a disciplina de contrabaixo a 3 alunos do ensino articulado. Depois de concluída os pais dos alunos mostraram, junto da direção da escola, vontade de que eu fosse o professor titular de contrabaixo, alegando o maior entusiasmo e motivação dos filhos no estudo deste instrumento.
O ensino sempre me fascinou, sendo que nele detetei a motivação para trabalhar as matérias de forma entusiasta e a juntar novas ideias para o ensino do contrabaixo, sendo gratificante o retorno dos alunos e encarregados de educação.

Reparei, aquando da minha chegada ao Conservatório Regional de Setúbal, que o nível dos alunos era muito inferior ao esperado, e senti que era preciso adaptar a cada aluno estratégias que o incentivassem a tocar por prazer o seu instrumento. Para mim, a música e o ensino da mesma, fascinam-me pela envolvência social, lúdica e promotora de uma formação integral do indivíduo. Em face disto, achei por bem abraçar o mestrado em ensino de contrabaixo e música de conjunto na ESART do Instituto Politécnico de Castelo Branco que concluí em Fevereiro de 2022. Na verdade, tem constituído uma experiência muito enriquecedora, que me abriu como pessoa e músico e, sobretudo, despertou em mim novos caminhos a percorrer no aperfeiçoamento, tanto na área do ensino instrumental ministrado pelo Professor Doutor Adriano Aguiar, como no conhecimento das pedagogias musicais. Este ano letivo irei também lecionar a disciplina de contrabaixo a alunos do ensino articulado e supletivo na Escola de Artes do Alentejo Litoral. É, pois minha firme vontade, continuar a crescer e a desenvolver novas práticas de ensino do contrabaixo, contribuindo, dessa forma, para que os alunos conquistem a paixão pela música, e, ao mesmo tempo, sejam melhores instrumentistas e melhores seres humanos.